sexta-feira, 20 de maio de 2016

O O.V.N.I. QUE SÓ QUERIA PAIRAR


Pairava lá no alto-longe como quem estacionou no vazio. Apenas uma ligeira tremura denunciava o seu mal-entendido com a força da gravidade. Ou talvez não. Motivo de dúvida e perplexidade, afinal nunca se viu um avião parado em pleno céu. Ou viu? Eu não. Também ninguém disse que era um avião! E não era.

Brilhava num metálico-dourado, feito bloco, depois halo, para se explodir em franjas, seguidas de partículas que se espalhavam em pó ligeiro, etéreo, mera reverberação, nada. Atraía qualquer par de olhos, dos mais aos menos curiosos, dos menos aos mais cansados, inclusivamente, os que só dispunham da capacidade de ver para dentro, vá-se lá saber porquê. Deixava-os, a todos, pendurados no alto, lá no alto-longe em que pairava, num estacionamento impossível.

Devia ser o brilho, aquele brilho tinha qualquer coisa de muito especial. O metálico-dourado era deveras inusitado, congregava, em união improvável, o frio do mais puro glaciar com o calor do vulcão mais estridente. E os pares de olhos, espantados, interrogavam-se, - será que vai ficar ali para sempre? - será que vai explodir? - será que, a todo o momento, vai começar a esboroar-se, qual glaciar caído em pedaços por efeito do aquecimento global, deixando à sua volta um mar de icebergs flutuantes?

Só depois, e apenas alguns, se perguntaram, - o que faz ali

Seguiram-se-lhes dois que se interrogaram, - o que é aquilo?

Por fim, um único par de olhos, os mais abertos, menos perplexos e mais extasiados, exclamaram, - como é belo! Seguiu-se ligeira agitação lá no alto-longe, uma azáfama repentina uniu as partículas do pó ligeiro que irradiava do metálico-dourado, estendeu-se em feixe deslumbrante, desceu até àquele par de olhos e elevou-os até à origem, dispersando novamente em brilhante reverberação.

OHHHHH!, exclamaram, atónitas, as bocas abertas dos outros pares de olhos, verdadeiramente sem saberem o que pensar.

Com o tempo e as coisas da vida, acabaram por se fechar, as bocas, os olhos desceram à terra, ao dia-a-dia das certezas resignadas e das incertezas receadas, já ninguém olhava para o alto-longe. 

Excepto um, o que seguia a bordo da reverberação, passageiro improvável do O.V.N.I. que só queria pairar.

(uma das minhas múltiplas fotos da Lua, aqui a fingir de O.V.N.I.)







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