quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

QUER FRÔR?



Confesso total ignorância sobre o que se passa. Confesso-me mesmo perplexa,  talvez aparvalhada!
Lembro-me bem de não haver governo, nos últimos (largos) meses do ano passado. Quer dizer, lá haver, havia, mas, felizmente, não se dava por ele. Ao menos na vertente terrorista, a do cultivo duma permanente e sádica  semente de inquietação que fazia com que certas categorias de cidadãos - maxime, trabalhadores e reformados - acordassem diariamente com doentia ansiedade,  resumida a uma interrogação do tipo,  que mais me irá acontecer?  Está bem, ao longo desses tempos, os governantes não permaneceram inactivos. Empenharam-se em distribuir flores de esperança e optimismo, anunciando um maravilhoso jardim, em que pululavam novas espécies, com as assombrosas designações de cofre cheio, devolução da sobretaxa, recuperação económica, descida da taxa de desemprego, saída limpa, etc. Pela minha parte, como estas flores tinham a invulgar característica de cheirar mal - cheiravam a tanga -, não acreditei no jardim. Sempre me pareceu que os jardins são sítios demasiados preciosos para se semearem de flores de plástico, ainda para mais, mal cheirosas. Houve, porém, quem acreditasse e, vai daí, entendesse por bem reconduzir os jardineiros.
Sucederam-se os factos que se conhecem. O jardim mudou de mãos! E agora? Pois é aqui, ao fim dum tempo já razoável, que entra a anunciada perplexidade. Na verdade, um inquietante estado de dúvida.
É certo que milita em meu desfavor o facto de, há bastante tempo, ter deixado de acompanhar telejornais, programas de comentário político televisionado e outros que tais. Limito-me à actualização via rádio (TSF e Antena 1) e ocasionais jornais virtuais. Não sei se por isso ou não, deu-me em ser assaltada por uma interrogação alarmante. Afinal, temos governo ou não temos governo? Tanto quanto me é dado saber, os actuais governantes têm andado numa simpática azáfama, empenhados, quais diligentes jardineiros, em devolver aos cidadãos, duma vez ou aos bocadinhos, as flores que lhes haviam sido confiscadas pelos jardineiros idos. Até aqui tudo bem, mas onde vão eles colher estas flores? A que jardins secretos? Que jardinagem praticam eles em prol dos prometidos jardins?
Como está bom de ver, o texto acima foi escrito (e interrompido) há um tempo atrás. Retomado agora, verifico já estar ultrapassado, na parte relativa à declaração de perplexidade. Presentemente, sinto-me apenas aparvalhada e voltei a acordar com a tal sensação de que mais me irá acontecer?. Isto, devido à chegada dum ramalhete de flores falsas, não sei se de plástico ou daquelas, murchas à nascença, que uns senhores distribuem, a troco duns trocos excessivos, à porta de certos restaurantes e por aí. Vêm embaladas em folhas de EXEL, com o estranho e pomposo nome de Orçamento do Estado. Do senhor olheirento e aparvalhado (pois, não sou só eu!) que, há dias, o apresentou à imprensa, retive um ar entre o alucinado e o angustiado, que me infundiu o receio de que, para além de falsas, as ditas flores escondam espinhos envenenados por trás das pétalas.
Com tais viveiros, haverá alguém a querer frôr
Enfim, de jardineiro em jardineiro, lá se vai desfalcando este jardim à beira-mar plantado!

(Imagem obtida em pesquisa google, com alteração de minha autoria: adição de DES, antes de CONFIANÇA )







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