domingo, 17 de janeiro de 2016

O RIO DO TEMPO


Já te passou o tempo. Já foste. Não sei se inabalável e determinado, certo da tua superioridade - como dizem as palavras, abaixo. Ignoro a quem pertencem as palavras. Ignoro, inclusivamente, se são verdadeiras ou falsas. Apenas uma parede de passado, esventrada, pedras a ruir, que o tempo já lhes limpou a lisura e o esplendor da cor, da cal. É isso que vejo e posso tocar. Passaste pelo tempo, passou-te o tempo, a ilusão e o préstimo original. Passou-te o que costuma passar quando o tempo passa ou passas pelo tempo. Gosto de te ver, apesar de já não estares. De já teres ido. Porque é inquestionável, já foste, embora farrapos soltos de memória ainda pairem por aí. Fantasmas. É a obra do tempo. É assim, não doutra maneira. Algo renascerá das tuas pedras soltas, cinzas. Mas não serás tu. Nem, de resto, conviria que fosses. Como não há percursos repetidos, como a água dum rio nunca é a mesma. Nem o ar que se respira. Nem o timbre do pensamento ou a marca da emoção. Nem nada, embora por vezes pareça. Pura ilusão. Eterno é apenas o rio do tempo.    

















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