terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O BRONCO


Acabei de parar no sinal vermelho, ao meu lado para um polícia montado numa mota, reparo que pretende falar-me, baixo o vidro, aguardo a comunicação e ela aí vem, nestes termos - então aquela passadeira ali atrás, a multa segue para casa!
Olho-o espantada e pergunto - que passadeira?
Ele insiste em que é aquela ali atrás, perante o que manifesto espanto, pois não me apercebi de ter cometido qualquer infracção relativa a qualquer passadeira ali atrás ou noutro sítio qualquer, isso é mesmo deveras improvável, pois tenho por hábito cumprir escrupulosamente com o respeito devido aos peões, ou seja, não costumo infringir passadeiras. Passar um sinal vermelho à tangente ou exceder um pouco a velocidade, hei de confessar que, por vezes, acontece, embora com as necessárias e redobradas cautelas, seja em relação a peões seja em relação a outros veículos.
Enfim, a minha reacção é do mais puro dos espantos, envolvendo um certo aparvalhamento.
Ele, sempre na dele, remata - a multa vai para casa, é pelo Natal!
De aparvalhada passo a revoltada - a maldade e o abuso de poder revoltam-me - e ainda desperto da estupefacção para lhe dizer - gosto de saber que fica feliz por me mandar esse presente de Natal, mas o sinal abriu e ele já vai em andamento.
A minha revolta transforma-se em fúria e, enquanto ele se vai escapulindo por entre os carros à minha frente - talvez com pressa de passar a multa -, acelero e desato a buzinar e a mandar sinais de luzes, com o intuito de o fazer parar e ouvir o que tenho para lhe dizer. Estranhamente, tal não acontece, estranhamente, porque o meu comportamento, entre ferozes buzinadelas e sinais de luzes, dirigidos a sua excelência a autoridade montada,  é, agora, verdadeiramente digna de multa. A autoridade deve estar distraída ou com pressa e não me faz a vontade, não para.
Eu só queria dizer-lhe que estou ansiosa por receber a multa, para ficar a conhecer a sua identidade e, assim, poder fazer queixa dele. Por simples questão de cidadania. Em primeiro lugar, porque continuo sem saber que raio fiz eu à passadeira; em segundo lugar, porque não suporto gente arrogante e mesquinha, que se contenta com a desgraça - ou aquilo que julga ser a desgraça - alheia, no caso, uma multa; em terceiro lugar, porque ainda suporto menos que a esse tipo de gente estejam confiadas funções públicas, envolvendo, de alguma maneira, o exercício do poder.
 



 
(Imagem obtida em pesquisa no Google)
 
 
 
 
 

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