domingo, 14 de dezembro de 2014

HABEAS CORPUS

 - Why not? Afinal, estou na plena posse dos meus direitos políticos, sou maior e vacinada e, a acrescer, recebi para cima de 25 000 euros do chamado sucateiro. Portanto – repito – why not?
Bem vistas as coisas, o homem está preso, em regime de trabalho intensivo, incluindo fins-de-semana e feriados – não sei se ainda há dias santos, mas, em caso afirmativo, também se incluem -, naquela coisa pomposamente designada Campus de Justiça - nome que me sugere um descampado, isto é só um aparte -, soterrado em resmas e resmas de folhas processuais, aquilo já deve parecer um caldeirão de sopa de letras a fervilhar em lume brando, e, para mais, preso nos holofotes da imprensa, incluída a cor-de-rosa, não pode fazer uma rusga que não seja capturado nos flashes do fotojornalismo, sem tempo para se coçar, quanto mais para se dedicar à família, que, ou me engano muito ou tem nomes tipo Rosa Maria, Sãozinha e Quim Zé (respectivamente, mulher, aliás, esposa, filha e filho, apenas hipotéticos, pois não tive tempo para investigar a composição e onomástica do agregado familiar).
Ora, não é justo - pensei. Por mais corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal que o País atravesse, não me parece que isso constitua fundamento adequado para se manter este homem preso, aliás, acorrentado, a tal magnitude de peças processuais, holofotes televisivos e bocas do mundo.
Por outro lado, não sei o que fazer ao saco de papel onde me entregaram a meia dúzia de castanhas assadas que comprei há pouco, por sinal, um belíssimo saco, com duas bolsas, uma, como é óbvio, para as próprias castanhas, a outra, não percebi muito bem para quê, aliás, quando vim a perceber, já tinha jogado as cascas todas para o meio da rua, deixando um carreiro, à medida que ia andando e morfando, como se precisasse de deixar marcos para o caso de ter de percorrer o caminho em sentido inverso, sem o risco de me perder, como na história infantil. Aquele chão ficou tão giro, cheio de cascas dispersas, que bem podia servir de musgo para o Presépio. Mas isto já é divagação secundária.
Assim, vai daí, peguei no lápis que sempre me acompanha, as mais das vezes enfiado atrás da orelha, e, sobre uma das partes do dito saquinho das castanhas – deixei a outra para o despacho -, redigi um pedido de habeas corpus, a favor do juiz Carlos Alexandre, com fundamento em falta de fundamento, ao menos tanto quanto a parte violada do segredo de justiça deixa transparecer, para a sua dita situação de aprisionamento, ou melhor, acorrentamento, pedindo urgência na decisão, a fim de ele poder passar o Natal, descontraidamente, com os hipotéticos Rosa Maria, Sãozinha e Quim Zé, sem ter de andar a calcorrear aeroportos, cais e outros sítios, a prender cidadãos do mundo.
- Why not? Foi o que pensei. Ah!, apresentei o pedido ao ACFPP (Alto Comissariado para os Futuros Presos Preventivos), acabado de criar sob a presidência de…, bem, ainda não sei, quer dizer, a imprensa ainda não regurgitou.
(Imagem obtida em pesquisa Google)
 
 

 
 

 

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