Bem
vistas as coisas, o homem está preso, em regime de trabalho intensivo,
incluindo fins-de-semana e feriados – não sei se ainda há dias santos, mas, em
caso afirmativo, também se incluem -, naquela coisa pomposamente designada Campus de Justiça - nome que me sugere
um descampado, isto é só um aparte -, soterrado em resmas e resmas de folhas
processuais, aquilo já deve parecer um caldeirão de sopa de letras a fervilhar
em lume brando, e, para mais, preso nos holofotes da imprensa, incluída a
cor-de-rosa, não pode fazer uma rusga que não seja capturado nos flashes do
fotojornalismo, sem tempo para se coçar, quanto mais para se dedicar à família,
que, ou me engano muito ou tem nomes tipo Rosa Maria, Sãozinha e Quim Zé (respectivamente,
mulher, aliás, esposa, filha e filho, apenas hipotéticos, pois não tive tempo
para investigar a composição e onomástica do agregado familiar).
Ora,
não é justo - pensei. Por mais corrupção, branqueamento de capitais e fraude
fiscal que o País atravesse, não me parece que isso constitua fundamento adequado
para se manter este homem preso, aliás, acorrentado, a tal magnitude de
peças processuais, holofotes televisivos e bocas do mundo.
Por
outro lado, não sei o que fazer ao saco de papel onde me entregaram a meia
dúzia de castanhas assadas que comprei há pouco, por sinal, um belíssimo saco,
com duas bolsas, uma, como é óbvio, para as próprias castanhas, a outra, não
percebi muito bem para quê, aliás, quando vim a perceber, já tinha jogado as
cascas todas para o meio da rua, deixando um carreiro, à medida que ia andando
e morfando, como se precisasse de deixar marcos para o caso de ter de
percorrer o caminho em sentido inverso, sem o risco de me perder, como na história infantil. Aquele chão
ficou tão giro, cheio de cascas dispersas, que bem podia servir de musgo para o
Presépio. Mas isto já é divagação secundária.
Assim,
vai daí, peguei no lápis que sempre me acompanha, as mais das vezes enfiado
atrás da orelha, e, sobre uma das partes do dito saquinho das castanhas –
deixei a outra para o despacho -, redigi um pedido de habeas corpus, a favor do juiz Carlos Alexandre, com fundamento em
falta de fundamento, ao menos tanto quanto a parte violada do segredo de
justiça deixa transparecer, para a sua dita situação de aprisionamento, ou
melhor, acorrentamento, pedindo urgência na decisão, a fim de ele poder passar
o Natal, descontraidamente, com os hipotéticos Rosa Maria, Sãozinha e Quim Zé, sem
ter de andar a calcorrear aeroportos, cais e outros sítios, a prender cidadãos
do mundo.
- Why
not? Foi o que pensei. Ah!,
apresentei o pedido ao ACFPP (Alto Comissariado para os Futuros Presos
Preventivos), acabado de criar sob a presidência de…, bem, ainda não sei, quer dizer, a imprensa ainda não regurgitou.
(Imagem obtida em pesquisa Google)
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