quinta-feira, 20 de novembro de 2014

ALMAS ROUBADAS

Por vezes, dou comigo a roubar almas, almas desprevenidas, expostas na singeleza,  no cansaço, na tensão, no esquecimento ou no abandono de corpos-cápsula.
Verdadeiramente, são almas que não estão lá, quero dizer, nos corpos-cápsula. Não estão lá, porque já não estão lá ou porque, naquele momento, não estão lá ou, então, estão lá mas não querem, não deviam ou não mereciam, o que é outra forma de não estarem lá.
Portanto, bem vistas as coisas - e passo a corrigir-me -, não se trata de roubo.
Trata-se, apenas, de apanhar almas que vogam por aí! Não com intuito de apropriação, mas por mero comando de empatia. E não deixo de as restituir!
 
À senhora muito idosa, que, na sua leveza intemporal, se confundia com as maravilhosas flores dos Butchart Gardens, em Vancouver Island, Canadá (2004). Quem sabe não seria ou não estaria em vias de se converter numa delicada Fada das Flores!? 
 
 
Às mulheres tristes e cansadas de Tallinn (2005), (in)pacientes na espera do transporte público, enquanto imersas  no desencanto ou na zanga doutras esperas por cumprir.
 

 
Às idosas desamparadas de S. Petersburgo (2005), apanhadas nas malhas da transição do comunismo para o capitalismo, que lhes roubou a garantia duma subsistência mínima, oferecendo-lhes, em troca, a liberdade de mendigar.
 

 
À frágil e muito idosa senhora, que, algures na Bulgária, corria o ano de 2006, se propôs vender flores à porta do autocarro de turismo, oferecendo a doçura e a inocência dum sorriso de menina. 
 
 
Ao  homem pensativo, que procurava limar as arestas da dúvida e apaziguar o cansaço da vida, no recolhimento duma deslumbrante Mesquita de Istambul(2009).  
 
 
Àquela senhora de olhar ausente, perdido de infinitos, materializada num banco de jardim, na marginal de Split (2011), através da presença do seu pequeno companheiro-cão e da carteira, sentada a seu lado, feita seu eco-sósia.
 
  
Ao homem estacionado na esplanada dum café de Liubliana (2011), entregue à azáfama de pensamentos vários, talvez banais, talvez não.  
 
 
À caminhante solitária dos caminhos austeros dum recanto da Islândia (2014), quem sabe se recordando percursos menos solitários. 
 

 
 
 
 
 
 


2 comentários:

  1. Muito bonito texto e fotos que levam a reflexão.
    Parabéns!
    Bom dia!

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    1. Muito obrigada! É um grande contentamento ver que alguém passa por aqui e, para mais, gosta do que lê/vê e, ainda para mais, tem a simpatia de deixar testemunho!

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