sexta-feira, 11 de julho de 2014

SÍNDROME DO REEMBOLSO!


Como eu adoro os senhores das Finanças (mas os envelopes picotados, não)!
Em última análise e para o caso de haver dúvidas, são a prova de que existimos e o lembrete intermitente, tipo pisca-pisca, de que o desassossego é o estado natural da vida na terra, pelo menos da vida dos humanos fiscalmente identificados, quer dizer, todos, logo à nascença, não vá dar-se o caso de extravio.
Ciclicamente, lembram-nos da existência de contas para pagar, como é o caso do terror anual do IRS, sempre gerador daquela angustiada dúvida a que chamarei síndrome do reembolso, quer dizer, a ânsia da simulação, para antever se, para além do que nos levaram ao longo do ano, deixando-nos num elevado patamar de esmifranço, ainda teremos de desembolsar mais um bocado ou se - esperança redentora!- nos calha em sorte um reembolso de sentido inverso - o que, aliás, a suceder, não é bem sorte, mas antes resultado da tendência dos ditos Srs. para sacarem em excesso. Todavia, nem por isso nós, contribuintes impedidos de fugir ao fisco, seja por que porta for - v.g., a dum qualquer paraíso fiscal - ficamos menos felizes, em caso de, chegado o princípio do Verão, termos um reembolso a haver.
Este ano, quando da dita simulação, recebi a grata notícia de que iria ter de volta uns euros, o que, só demonstrando os excessos das retenções praticadas ao longo do ano, nem por isso me estragou o sabor da notícia. Contudo, a minha alma elevou-se, quase atingida de êxtase, quando vim a receber quase o dobro do montante esperado! Que bom, que bom, vale bem a pena ser sobre roubada ao longo do ano, para entrar na época estival com uma disponibilidade orçamental extra para gelados e assim - creio ter sido mais ou menos isto a passar-me pela cabeça.
Devo, todavia, referir que, tal é o hábito de pagar sempre mais, que a súbita revelação do inesperado incremento do crédito me deixou um tanto ou quanto insegura, não fossem eles, ferozes contabilistas do fisco, ter-se enganado...a meu favor (imagine-se!!!). 
E foi neste estado de espírito que ia tendo um ataque cardíaco quando, hoje, aberta a caixa do correio, deparei com um envelope da Autoridade Tributária (ui, que medo!, só o nome...), do qual não estava à espera, visto pensar ter as contas regularizadas ou lá como é que eles dizem - e não ser de esperar que se tratasse, por exemplo, do convite para o casamento um director-geral ou dum chefe de repartição. Assim, se não posso inventar que as minhas mãos tremeram, ao menos posso jurar que se atrapalharam vivamente, na pressa de abrir o raio do envelope. Pode ser defeito (mais um!), mas tenho sempre grande dificuldade em atinar com a abertura daquele picotado; começo, aquilo desliza bem, aí até um centímetro, e depois vai de encalhar e eu de desesperar, rasgar ao lado, talvez em vias de assassinar a relevante informação veiculada no interior; tento retomar o fio do picotado, depois é a cola a desobedecer e, no fim, estão três bocados de papel desarticulados, meio fanados, e eu a tentar encontrar a sentença. Vá lá, era apenas a liquidação, comprovativa de que o reembolso efectuado estava correcto. O alívio foi de tal ordem que nem me dei ao trabalho de ver se uma parte das contas se referia a juros devidos pelo excesso de retenção praticada ao longo do ano. Who cares!
Portanto, esta conversa toda é apenas para pedir aos ditos Srs. que pensem num modelo de envelope cuja abertura gere menos ansiedade, s.f.f.
Já agora, gostaria muito de ficar a saber se esta dificuldade na abertura dos envelopes XPTO é só minha e se sou a única a sofrer da síndrome do reembolso. Se alguém tiver algo a dizer sobre o assunto, é favor deixar em comentário, ok? :)
 

 
 
 

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