quinta-feira, 5 de junho de 2014

LUZ ANTIGA


Confesso que "Luz Antiga" não me prendeu de imediato, antes requereu uma certa persistência, para ultrapassar o ponto de fronteira em que já não é possível voltar atrás.
A partir daí rendi-me àquela escrita inteligente, quase geométrica, na pureza do estilismo, mas, sobretudo, no distanciamento que adopta em relação ao miolo emocional da narrativa, embora, curiosamente, sem impedir que o leitor a este aceda de pleno, assim a sua sensibilidade lho permita. Trata-se, porventura, duma certa crueza, talvez não apenas reflexo de estilo, mas consequência da própria consciencialização de que o terreno das memórias é palco de enganos e invenções (involuntários), aspecto bastamente presente no livro e que - imagino - justifica a criação duma distância prudencial, enquanto filtro da possível verdade enredada na teia de não verdades fabricada nos meandros da memória.
Memórias fortes, aliás, do irromper da paixão dum adolescente por uma mulher 20 anos mais velha, mãe dum colega de escola, matéria que, servindo de pano de fundo ao romance, não esgota o seu objecto, pois há, também, a deriva - ou será demanda ou ambas? - do personagem pela sua filha desaparecida...
Um bom livro, que li há meses e de que falo hoje, a propósito do facto de o Prémio Princípe das Astúrias para as Letras ter acabado de ser atribuído ao seu Autor, John Banville.         
 

 

 
 
 
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário