quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

ESTATÍSTICA AMIGA, A MALTA ESTÁ PERDIDA!


Há quem acredite no poder inspirador do amor ou da arte ou doutra coisa qualquer.
Eu acredito, mas acreditar, acreditar, acredito mesmo é no poder inspirador da estatística, apesar de ter fama de viver pendurada no árido enredo das ciências, para mais, a matemática. Sem pretender negar a beleza e a poesia da matemática, aliás, sempre tive muito boas notas a matemática, não sei se por acaso ou se por aquela raiz comum da lógica e da harmonia, outras formas de arte, suas bases ou margens ou distâncias próximas.
Tanta divagação para dizer algo tão simples: acredito no poder criativo e curativo da estatística, quando não no seu poder redentor, por via do onírico, o que nos remete para o abençoado prado dos sonhos bons, ou seja, os sonhos sem futuro, que, todavia, enquanto duram, nos levam às alturas da transcendência. Claro que o mesmo se aplica aos sonhos maus, os ditos pesadelos – de que sofro não sem um certo prazer ansioso, o de acordar, saber que foi mentira, respirar fundo, transcrever, constatar, analisar, sossegar e esperar pelo próximo, porque há sempre um próximo, envolto na sua cor castanho-escuro. Mas, como os sonhos, também os pesadelos têm duração limitada e, se não nos transportam à altura da transcendência, por vezes até sim, empoleiram-nos nas margens do confronto com paisagens irreais ou julgadas irreais, nem sempre destituídas de assombrosa imponência e beleza, que há vários domínios da beleza, nem só nem sempre o belo é o belo.
Está bem, volto à estatística, assunto a propósito do qual espraiei esta conversa. Para que não haja confusões, mudo de parágrafo.
É assim: hoje em dia, há um País – obviamente há mais, mas, por agora, só este me interessa - em que a classe trabalhadora diminuiu de número e a classe dos muito ricos aumentou de número; a zona de ninguém que as separava (recomendável distância) ou unia (ameaça) definhou, deu-lhe um mal, deu-se mal, desapareceu, morreu, adeus, goodbye.
Estatisticamente, este País está muito melhor, menos gente a trabalhar, mais gente a desfrutar, gente, esta, que só pode ter ascendido daquela ou da desnecessária defunta.
É disto que eu gosto na estatística, agora, cada trabalhador-em-saldo (esquecera-me de dizer, não releva em termos estatísticos, mas o trabalho compra-se agora à cotação do saldo…) pode aspirar directamente ao mais alto grau da classe económico-social ambicionada, sem passagem pela maçadora etapa intermédia da defunta zona de ninguém; um futuro muito mais promissor se perfila. E muito mais rápido. A lei das probabilidades repousa, obviamente (como convém), no esquecimento dos jackpots televisionados em directo de casas pelintras e outras que tal, na morte dos avisados avisos do pensamento, estropiados por eufóricos ou deprimidos depoimentos de formadores de opinião (constante ciclotimia da ameaça clara ou surda, repetida ao limite da exaustão, de preferência embrulhada em emoção), do assassinato das promessas nadas-mortas, alardeadas ao som de hinos arrebatadores, por pseudo-políticos de inspiração canina, enfim, por aí.
Se inventei esta estatística? Claro que sim. Mas não é original, o poder criativo, inspirador e redentor das estatísticas certinhas e oficiais é bem superior ao desta! E o oposto é igualmente válido.
 
 

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