quinta-feira, 21 de novembro de 2013

GUIÃO DUMA SEMANA PERDIDA


I-ANTECEDENTES
  • ENDÓGENOS: natureza de flor de estufa. Ressente-se com as variações climatéricas (e outras, mas não são para aqui chamadas), especialmente quando bruscas.
  • EXÓGENOS: acentuada descida da temperatura; frio súbito.  
II-DIAGNÓSTICO
  • Diz (o médico) que é sinusite ("sinosite", como já ouvi dizer, mas também já ouvi, viemos a S. Petersburgo, de propósito, para ver o "Hermitrage"). Põe-me a antibiótico e a outras coisas, designadamente, muito soro fisiológico (aquilo não é água?). Obedeço, encharco o nariz de soro fisiológico como se não houvesse amanhã (ou sede na terra). Desliza como álcool em boca de bêbado, desaguando na garganta, como álcool de bêbado no estomago. Presumo, pois não sou bêbada, ao menos até ver, nunca digas deste vinho não beberei. Só uma vez, no máximo duas (mas da segunda já não me lembro, é como se não existisse), apanhei uma bebedeira, chamava-se pifo, não sei se ainda se chama. Serviu-me de emenda (exceptuada a tal segunda que talvez não tenha existido). Não gostei nada de ter chegado a casa amparada, de me estatelar na cama e ver o tecto feito montanha russa, de cambalear para ir vomitar (várias vezes) e de, no dia seguinte, mal refeita, ter ido trabalhar em equilíbrio instável (não por cambalear, mas de pura má disposição e náusea). Um dia destes contei este eloquente episódio aos meus queridos sobrinhos-netos, com o objectivo de os desmotivar em relação a semelhantes extremos. Adoraram a história e fartaram-se de insistir para lhes contar como foi da segunda vez, mas, sinceramente, não me lembrava. Repeti a primeira e continuaram a adorar e a fazer perguntas. Espero que o interesse despertado não lhes dê para experimentar. E, já agora, que os pais não leiam isto.
  • Chego a casa, muito contente por começar a tomar o antibiótico (isto agora vai ser tiro e queda, a sinusite a dar o fora e eu livre para a evasão), preparo-me para me refastelar e continuar aquela magnífica peça literária que vai ser O Moleskine de Janete e eis que, certeira como uma faca afiada, ela me ataca o fundo esquerdo das costas, descendo pela correspondente perna. Já me vejo a caminho das Urgências quando decido fazer autodiagnóstico: ciática/hérnia discal desadormecida. Já cá faltavas, há tanto tempo caladinha! Posição mais confortável, cama. Remédio de urgência, saco de água quente. Horas, princípio do dia, lá para as 22H!
  • O estomago também resolveu não gostar muito do antibiótico. Grande seca. É bem verdade que uma desgraça nunca vem só e, pelos vistos, duas também não.
III-ESTADO
  • GRRRRRRRRRRR!!!
  • Subir pelas paredes (se pudesse).
  • Tirem-me daqui!
IV-REACÇÃO (sequencial)
  • Desmotivação; autocomiseração.
  • Racionalização: podia ser pior, ai podia, podia! Copo meio-cheio versus copo meio-vazio, qual (triste) livro de auto-ajuda (não sei porque se chamam assim, se fosse auto-ajuda não era preciso comprá-los, não? Talvez venda de ajuda fosse mais adequado...).
  • Auto-satisfação pelo predomínio da força interior e, também (principalmente), porque a sinusite parece estar a retroceder e a ciática dá mostras de reagir bem à terapia do saco de água quente.
V-OCUPAÇÃO
  • Um bocadinho de Facebook fora de horas (pelas madrugadas da tarde), distribuição de likes e partilhas (respectivamente, para me certificar daquilo que gosto, abolindo margem para dúvidas, e agenda para utilização futura, em ambos os casos, há quem use para outros fins) e distribuição de comentários (para me certificar de que existo, creio que comum à maior parte dos comentadores).
  • Dormitar, eventualmente, dormir. Nem esta coisa nem sequer a outra.
  • Ler um bocado (quase a acabar o livro começado na segunda-feira, quando esta seca começou).
  • Pensar, pensar sempre muito, ainda que nada de jeito. Pensar sobre isto duma perspectiva irónica.
VI-DESAFIO
  • Bora lá experimentar, talvez já consigas aguentar um bocado sentada, com o saco de água quente a acolchoar as costas, para escrever o pensamento dessa perspectiva irónica. Faz bem desabafar e, sobretudo, sorrir de si. Faço um smile (não sei se é verdade, nem reparei).
  • Experimento. Menos dores. Consegui!
VII-PROGNÓSTICO
 
Como diz o outro, só no fim do jogo, mas a verdade é que, até sábado (ui!, só falta um dia) tenho de ficar boa. Aguarda-me uma festa de Aniversário e mal posso esperar. Quero ir prós copos. Não até ficar como da outra vez, nem pouco mais ou menos. Uma vez chegou (se não foram duas, mas isso, como disse, não me lembro). 
 
 
 

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