terça-feira, 8 de outubro de 2013

DICIONÁRIO PARA LORPAS (1)


ESPÉCIE DE INTRODUÇÃO
 
Quando penso que a minha capacidade de espanto já atingiu o limiar absoluto, volto a espantar-me! E é sempre difícil aceitar o fracasso dum novo limiar despedaçado.
 
Outro fenómeno que me atinge frequentemente é a consciência da minha crescente ignorância, como se quanto mais devesse saber, menos soubesse! Obviamente, também não é fácil de aceitar, ao menos para alguém como eu, para quem atingir a compreensão/conhecimento da realidade envolvente (humana ou não) constitui um anseio, vindo sabe-se lá donde e conduzindo sabe-se lá a quê, porventura a nada de importante, mas isso não é para aqui chamado.
 
E o que tem isto a ver com um DICIONÁRIO PARA LORPAS ? Tudo a ver!
 
Passo a explicar: de há uns tempos a esta parte, várias pessoas, eu incluída, temos vindo, se não a considerar-nos lorpas - por vezes, também - a admitirmos, como hipótese segura, que certas outras pessoas nos tratam como se o fossemos, aliás, em elevado grau, perdidamente lorpas. Estas outras pessoas, talvez melhor dito, personagens ou mesmo personalidades, reconduzem-se, sobretudo, à categoria dos chamados políticos, vocábulo que, embora indevidamente, se deu em aplicar aos governantes - indevidamente, porque, por regra, o conceito de política assume um significado demasiado elevado para designar as práticas a que esses senhores ou senhoras se dedicam -, mas também a outras categorias, como é o caso dos comentadores e dos banqueiros. Há mais, mas refiro-me, apenas, às óbvias.  
 
O citado tratamento por lorpas consiste na utilização intencional de certos vocábulos ou fraseados destinados a camuflar realidades desagradáveis - para não dizer dramáticas - que nos impõem, mas não estão interessados em assumir.
 
Também pode ser visto como um jogo parvo de enganar criancinhas, como quando se diz pica em vez de injecção ou coisas do género.
 
Então, como ninguém gosta - parece-me, mas posso estar enganada - de se ver tratado como lorpa - ou porque não o é ou porque, sendo-o, devia estar ao abrigo duma qualquer benemérita ONG, v.g., APPL, Associação para a Protecção de Lorpas - decidi dar-me ao trabalho de identificar os vocábulos ou fraseados de que falo acima e a estabelecer o seu real significado.
 
Faço-o com o intuito duma modesta contribuição para a erradicação do fenómeno de lorpização nacional, sem quaisquer fins lucrativos.
 
Tratando-se de matéria muito vasta, talvez haja continuação do trabalho agora iniciado, mas nada garante que assim seja, visto ter outras aplicações, bem mais interessantes, para o pouco tempo de que disponho. A ver vamos, pois, se ao 1 se seguirá um 2 e por aí adiante. 
 
Só mais uma coisinha: sob o ponto de vista alfabético, a ordem é puramente arbitrária, pois, como se compreende, estou condicionada pelo que vou ouvindo.
 
DICIONÁRIO PROPRIAMENTE DITO
 
  • CHOQUE DE EXPECTATIVAS (no contexto do próximo Orçamento de Estado, conforme utilização por sua exc.ª o senhor 1º ministro): REALIDADE DE CONFRONTO, geradora dum CHOQUE DO CARAÇAS (em linguagem coloquial lorpa) NOS DESTINATÁRIOS DAS MEDIDAS alegadamente destinadas à redução do défice, imposta pela corja de credores e pelo voluntarismo do governo, traduzidas, nomeadamente, em MAIS UM ASSALTO AOS TRABALHADORES E AOS REFORMADOS E EM MAIS UMA FORTE MACHADADA NA CLASSE MÉDIA EM VIAS DE EXTINÇÃO (ou já extinta, de todo, admito não estar 100% actualizada). Mas também susceptível de gerar esfregadelas de mãos e sorrisos marotos a suas excs.ª os senhores banqueiros nacionais, cujo financiamento, via grande parte do célebre (1º) resgate, está a ser pago pelos acima citados, lorpas. 
  • INCORRECÇÃO FACTUAL (no contexto das explicações dadas por sua exc.ª o senhor ministro dos negócios ... está bem, estrangeiros, a propósito da magna questão de ser - como, pelos vistos, era - ou não ser - como, pelos vistos, disse - sócio da fantasmagórica SLN): MENTIRA DESCARADA OU DO CARAÇAS (em linguagem coloquial lorpa), susceptível de fazer o nariz de qualquer Pinóquio ultrapassar as fronteiras da pátria Itália e chegar sabe-se lá onde ou de deixar desdentada a mais bem artilhada das bocas. Mas também e por isso, CAUSA DE DEMISSÃO IMEDIATA NUM PAÍS QUE NÃO FOSSE DE LORPAS.
  • FORMA MENOS FELIZ (referida ao pedido de desculpas apresentado pela mesma excelência ao Governo de Angola, pelo facto de, ao que parece, a justiça portuguesa ter uma investigação em curso sobre um ou mais angolanos, não sei bem): SUBSERVIÊNCIA DO ESTADO PORTUGUÊS, teoricamente democrático, FACE AO ESTADO ANGOLANO, também teoricamente democrático, em nome de desprezíveis interesses da alta finança luso-angolana, À REVELIA DOS LORPAS
  • VÍTIMA DUMA CAMPANHA (segundo alegação da mesma excelência, no contexto das críticas das oposições aos seus referidos comportamentos, pelo menos): CHAMADO A RESPONDER, CÍVICA, POLÍTICA E JUDICIALMENTE, SENDO O CASO, EM VIRTUDE DE ACTOS PRATICADOS NA QUALIDADE DE GOVERNANTE
 
 
 
 


Sem comentários:

Enviar um comentário