sábado, 5 de outubro de 2013

"CAVALOS ROUBADOS"

 
Um sexagenário avançado (67 anos), após 3 anos à deriva, na sequência da perda dos seus referenciais humanos mais próximos, a mulher e a irmã, decide passar o tempo que o separa da morte (assim vê, realisticamente, a situação) no isolamento duma casa perdida num remoto bosque norueguês, frente a um lago.
 
A realização das obras de restauro requeridas pela casa é a tarefa que elege para si próprio, como quem precisa de aproveitar e, simultaneamente, de demonstrar as últimas forças. Ao mesmo tempo, vai reflectindo, com pungente lucidez, sobre a velhice. 
 
A sua ideia é a autonomia, a sua escolha, o retiro da solidão.
 
Enfrenta, pois, com desagrado a descoberta dum vizinho, um pouco mais novo, que lhe parece conhecer doutro tempo, como conhece.
 
Esse outro tempo remonta à adolescência, ao Verão dos seus 15 anos, passado na companhia do Pai - amado, admirado e emulado -, numa cabana perdida em remoto bosque norueguês, atravessado por um rio.
 
Circunstâncias de ordem vária, sobretudo de entreajuda, levam à aproximação com o vizinho, pretexto para uma tão nostálgica quanto vibrante revisão daquele período da sua vida e dos estranhos e intensos acontecimentos então ocorridos, em que ambos, cada um à sua maneira, são protagonistas relacionados.
 
E assim se vai construindo uma trama entre o passado e o presente, cuja malha é a das mais profundas emoções e da mais obstinada dificuldade na sua demonstração, como se, por exemplo, expor os afectos carregasse em si uma funesta consequência.
 
Nisto ele é mestre, ele, PER PETERSSON, de cujo livro CAVALOS ROUBADOS estou a falar. Já o tinha constatado ao ler MALDITO SEJA O RIO DO TEMPO  (como aqui testemunhei, em post de 20 de Agosto de 2013, intitulado, BLESSED BE PER PETTERSON).
 
O estilo é, também, idêntico, primando por uma escrita descritiva, tão viva quanto poética, que nos leva a desejar voar pelas páginas como quem rouba cavalos.
 
Enfim, mais um livro magnífico, profundo, envolvente e confirmativo de que a sensibilidade (no sentido do entendimento da emoção) não é um domínio exclusivamente feminino.
 



 
 
 

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