quinta-feira, 19 de setembro de 2013

AMAR PALAVRAS/ODIAR PALAVRAS/COMPREENDER AS PALAVRAS

 
 
Nem sequer imaginava quem era Markus Zusak, nem que havia um livro intitulado A Rapariga Que Roubava Livros.
 
Então, há cerca de 2 semanas, calhou entrar numa Bertrand, percorrer as prateleiras e demais expositores desses magníficos amigos que são os livros - sempre dispostos a dialogar connosco -, e deparar-me com uma capa, donde parecia saltar a Morte, de mãos dadas com uma Menina, saltitando  numa cumplicidade talvez inesperada.
 
Impossível resistir! Sentei-me com o livro ao colo e comecei a desvendar o seu mistério. Fui até não sei que página, pois queria tudo menos interromper o fascínio que as palavras estavam a produzir em mim.
 
Marquei a página interrompida, paguei, saí e, depois, foi questão de meia dúzia de noites, até chegar aqui, ou seja, ao ponto em que, tendo terminado a leitura, não posso deixar de partilhar.
 
A Rapariga Que Roubava Livros, da autoria de Markus Zusak  fala-nos da história duma criança, Liesel Meminger - não resisto a dizer o nome, tão poderosa é a personagem -, que, no meio dum profundo desgosto familiar - é entregue, em adopção, a um casal alemão, em Molching, subúrbio de Munique, em Janeiro de 1939. A partir daí, a sua história casa-se com a História da barbárie do Nazismo e da II Guerra Mundial.
 
Todavia, a história de Liesel assume os mais belos contornos do amor, o amor em várias manifestações, por exemplo, a filial, na cúmplice relação estabelecida com o pai adoptivo - o Papá, dos olhos de prata -, a que, ao menos durante a infância, poderíamos considerar de fraterna, com o seu amigo Rudy - o miúdo sempre esfomeado e de cabelos da cor das espigas de milho - a do abraço às causas justas, na amizade com Max, o Judeu. Mas, igualmente, o amor às palavras, aquelas que o Papá lhe ensina a decifrar e que ela tanto ama, quanto é levada a odiar, visto terem sido a dominadora arma do Fuhrer.  
 
Paralelamente, as atrocidades do nazismo e da guerra estão lá, marcando o andamento dos acontecimentos, marcando os acontecimentos, qual invencível batuta toda poderosa.
 
Tudo nos é contado através duma escrita maravilhosa, ritmada, rica de imagens, terna (sem ser ternurenta), emocionante (porque nos fala de tantas emoções e porque se revela construída a partir dum centro de emoção genuína), doce, empolgante, mas também, denunciadora, porque tais horrores não podem nunca ser esquecidos. E que mergulha fundo na análise da natureza e das relações humanas.
 
E a Morte? Pois, a Morte é a narradora, uma narradora simpática, destituída do peso da malignidade, desresponsabilizada das suas acções, porque tem um Chefe ao qual não pode deixar de obedecer. E, afinal, a salvadora da história de Liesel. Curiosa (e compreensível) imagem da morte.
 
Acresce que o livro tem dentro outros livros, ilustrados, livros-oferta, cartões de trânsito entre amantes de palavras e parceiros de dor e dádiva.
 
Portanto, um livro verdadeiramente surpreendente e extraordinário.
 
Se tivesse tempo, lê-lo-ia, de novo, mais devagar.
 
E começaria a anotá-lo logo de início.








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