sexta-feira, 9 de agosto de 2013

TERRORIST SEASON: CARTILHA

Em tempos, escrevi qualquer coisa do tipo: nasci num tempo que não era o meu. Sinal de inadaptação, talvez, ou mesmo de inépcia.
 
Hoje, estou em condições de concluir: vivo e hei de morrer num tempo que não é o meu. Definitivamente, sinal de inadaptação e, mesmo, de inépcia.
 
Não é nenhum drama e o prejuízo é só meu, apenas me custa viver num País em que aquilo que tenho por princípios e valores essenciais é, diariamente, amarfanhado em praça pública, por pseudo-políticos de creche (sem ofensa para as criancinhas), perante um povo amorfo, no mínimo distraído, no máximo destituído.
 
Depois, já nem a silly season é o que era, quando ainda era tão aberta e ingenuamente silly e, como tal, podia até suscitar sorrisos, ainda que fossem de tédio ou de desprezo. O mês de Agosto, diga-se de passagem, sempre foi o maior dos tédios, o máximo expoente do toda a gente a fazer a mesma coisa. Por isso, sempre evitei tirar férias em Agosto.
 
A dita season assume, agora, os mais variados rostos, um dos quais é o de terrorist season.
  
Cá para mim, chegámos ao ponto em que o País está em vias de encerramento.
 
Com toda a desgovernação alegremente votada e empreendida a partir do 25 de Abril, de autoestradas em estádios megalómanos, de rotundas em fundos comunitários esbanjados, de submarinos e Freeports em  Bpns e Swaps, de desorçamentações várias em contabilidades criativas várias, enfim, de tanta coisa má em tanta coisa má, eis-nos aqui chegados.
 
Aqui: Governo, infecto; principal partido da oposição, infectado; restantes partidos da oposição: em parte incerta (aquelas negociações entre os partidos de esquerda deram em alguma coisa? Desconheço, mas também não tenho procurado saber).
 
Aqui: Austeridade, muita, com acentuada tendência para crescimento. Consequentemente: Vítimas, sempre as mesmas, trabalhadores e reformados, que a isso obriga a ideologia dominante, de sua graça (nenhuma) neoliberalismo ou capitalismo selvagem;  classe média, extinta ou em vias de o ser; classe, como dizer, detentora do poder, cada vez mais rica;  pobreza, em franca expansão (que é sempre conveniente aumentar o exército de escravos). 
 
Aqui: Economia, praticamente destruída; Finanças Públicas, pelas ruas da amargura, brutalidades de dívida e de défice, não obstante o desatino dos cortes e a brutalidade dos impostos.
 
Aqui: Por falar em desatino de cortes: Serviço Nacional de Saúde (velha glória da Pátria, reduto da Constituição, tão benéfica para as Pessoas ..., mas o que interessa a Constituição e as Pessoas? ) em programada e acelerada ruptura (a saúde a quem a pode pagar!); Sistema Público de Ensino, idem, em todos os aspectos (a educação a quem a pode pagar!).
 
Aqui: Reforma da Administração Pública - ou seja, definição, duma vez por todas, das funções do Estado e consequente redimensionamento da AP, sendo o caso e dentro do quadro legal vigente -, não feita nem com intenções de ser feita. Em vez disso, intencional divulgação da confusão entre AP e Sector Empresarial Público, constituído, este, as mais das vezes, com objectivos de fuga às estritas regras da gestão pública e/ou para efeitos de desorçamentação (enquanto foi possível) e para instalação de boys, muitos boys, e muito bem remunerados. Já agora, a somar aos muitos e muito bem remunerados boys espalhados por tudo quanto é gabinete ministerial (também estes alheios à AP, embora, muitas vezes, acabem por lá ser encaixados, maxime em lugares de chefia). Também em vez disso, intencional diabolização duma classe inteira de profissionais, os funcionários públicos, para agrado das hostes, incapazes de entender que, por um lado, na AP há de tudo, bons e maus, desde sempre existiram mecanismos para correr com os maus (procedimento disciplinar) e, por outro lado, o caminho lavrado contra uma classe de trabalhadores há de forçosamente conduzir às restantes classes de trabalhadores. Ora bem, enquanto essa intoxicação progride, o SEE e os Institutos Públicos e Fundações (Administração Indirecta do Estado) continuam incólumes e serenos e baralha-se a reforma com um programa de despedimentos, destituído de qualquer racionalidade que não seja a dos cortes cegos.
 
Aqui: Privatiza-se o que é bom (dá lucro) e estratégico para o interesse nacional, mantém-se o resto no âmbito do Estado (v. ponto precedente). Exemplos, dispensáveis, por óbvios. Só uma notinha para o paradoxo da privatização da parte boa do BPN, ao preço daquela uva, e manutenção da nacionalização dos prejuízos. Já para não falar na inicial nacionalização do dito banco (aquilo era um banco? Só se fosse um banco de ajuda aos amigos cavaquistas, é o que parece).
 
Aqui: Reforma da Justiça, por fazer e sem intenções de ser feita; mais uns remendos num ou noutro Código, que isto de legislar é o que mais rende, e o resto, era bom, mas não foi. Compreende-se, afinal  já se percebeu que a Política gosta de estar a bem com a Justiça (?) e vice-versa. 
 
E, como se tudo isto não bastasse, os srs. do governo entretêm-se a lançar reptos aos srs. do PS - e estes a responder na mesma onda-  sobre umas infinitésimas décimas de descida da taxa de desemprego  e sobre um  alegado assessor SWAP do Tó Zé, só para distrair as atenções dos tugas, como se estes não soubessem ou não devessem saber que aquela descida é sazonal e que, em matéria de SWAPs, se o monstro terá sido criado pelo anterior governo, este não se tem poupado a esforços para o alimentar. 
 
Distrair as atenções, também e por exemplo, do facto da maquilhagem do défice estar agora a ser feita à custa do Fundo de Estabilização da Segurança Social. Não haviam eles de precisar de cortar nas pensões! E quando tal não chegar (10%, este ano, 10%, no próximo ano, aliás, apenas 10%, como disse o secretário de estado não sei das quantas, etc., etc.), corte-se nos reformados! 
 
O mais sério é que os tugas tendem a alinhar nestes malabarismos canalhas. Enfim, os governos não emergem de geração espontânea, resultam de votações. E que votações!
 
É, aliás, por isso, que tenciono continuar a votar, diversamente de vários amigos, que já me anunciaram intenção oposta. Eles lá sabem o que será melhor para sairmos daqui.
 
Boa praia é o que é preciso, não?
 
 
 
 
 
 

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