segunda-feira, 5 de agosto de 2013

PAIXÕES PERMITIDAS


Eis que ainda não perdi a capacidade de ficar perplexa! Desta vez, com o filme intitulado PAIXÕES PROIBIDAS, da realizadora Anne Fontaine, que vi, há dias, num cinema perto de mim.
 
Não revelo nenhum segredo cinematográfico (consta da pertinente sinopse), ao adiantar que o filme gira à volta duma dupla paixão cruzada, entre os filhos de duas grandes amigas e estas ou, dito doutra maneira, para evitar confusões, o filho duma apaixona-se pela outra e o filho da outra apaixona-se pela uma, sendo também certo que uma se apaixona pelo filho da outra e a outra se apaixona pelo filho da uma. Quer dizer, paixões não só totalmente cruzadas como retribuídas. E vivem em (magníficas) casas vizinhas, servidas por deslumbrante paisagem marítima.
 
Baseados no precedente parágrafo, não comecem já a pensar que não sei escrever ou que, hoje, estou um tanto ou quanto arrevesada. Nada disso! Foi só a maneira que encontrei de expressar a minha perplexidade, a explicar mais adiante.
 
Antes, porém, devo esclarecer estarmos em presença de gente gira, como convém a um tal imbróglio: as mães, aí nos seus quarenta e tais, são interpretadas pela Naomi Watts e pela Robin Wright; os filhos (interpretados não sei por quem), quais magníficos deuses gregos, ainda não terão atingido os vinte. Um é louro, outro é moreno - como diria aquele cantor pimba -, mas ambos muito, muito bem e muito, muito atléticos.
 
Claro que há umas cenas bastante, como dizer, sensuais, pronto. E os ambientes (interiores e exteriores) são fantásticos.
 
Portanto, uma conclusão é certa: o filme não faz nada mal à vista.
 
Já ao intelecto, tenho as minhas dúvidas. E daí a razão da anunciada perplexidade.
 
Não se trata, naturalmente, da temática das paixões entre pessoas com assinaláveis diferenças de idade. Elas existem, normalmente são datadas, mas isso também não interessa nada, pois, mesmo sem essa marca, é habitual as paixões terem prazo de validade. Nem é o caso de, aqui, os mais novos serem os homens, pois, segundo consta, essa situação é cada vez mais comum.
 
A questão reside, antes, no facto de toda aquela proximidade  - dois filhos, praticamente criados juntos e os melhores amigos, duas mães, idem - e improbabilidade. Claro que se trata de cinema, logo, dum domínio de evasão, alheio, nomeadamente, à lógica das probabilidades. Mas o problema é que nada no filme parece funcionar em termos de conferir sentido a esse alheamento. Inexiste, em minha opinião, uma lógica alternativa, fundamentadora da opção por um tal tipo de narrativa (considerado, evidentemente, todo o seu percurso, aqui omitido, pela óbvia razão de não desvendar o argumento, com prejuízo para eventuais interessados em ir ver). Não é que eu pretendesse o filme veiculador de qualquer mensagem; não gosto é de quando uma história se consome em si mesma, sem dela se poder retirar um qualquer sentido, ainda que meramente especulativo ou, por exemplo, onírico, sobre o seu propósito.
 
Serve, então, para quê? Para distrair ... o olhar, por exemplo. Num magnífico paraíso australiano ... por exemplo.
 
PS: Aceitam-se críticas à crítica, que, estou em crer, faria mais pelo filme do que muita publicidade paga (caso o universo de leitores o permitisse) ... (esta parte era destinada a provocar sorrisos).
 

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