quinta-feira, 22 de agosto de 2013

NEM GAIOLA, NEM DOURADA!


Estava decidida a não ir ver o filme A GAIOLA DOURADA, do realizador Ruben Alves. Não, necessariamente, por ser um filme português (ou, pelo menos, em português), mas porque detestei o título - apelando a uma anterior gaiola qualquer coisa? - a apresentação - com foco num estridente grito da Rita Blanco a chamar alguém e nas habituais facécias e esgares da Maria Vieira, em suma, no que me pareceu ser a ridicularização dos Portugueses (a este propósito, nunca esquecerei, pela negativa, o filme O AMOR ACONTECE...) -, e o facto de, ao menos na bilheteira do cinema UCI do Corte Inglés de Lisboa, o filme ser anunciado por entre um folclore de dispensáveis símbolos da Portugalidade (?), com relevo para um bacalhau. 
 
Entretanto, disseram-me que o realizador é luso-descendente e que o filme se inspira numa história de vida, aspecto este que, por regra, sempre confere alguma credibilidade.
 
E pronto, lá fui vê-lo, adiando um outro que me interessava deveras, SÓ DEUS PERDOA, do realizador Nicolas Winding Refn, que, entretanto, passou para as duas da manhã, hora não cinéfila, para mim.
 
A Gaiola, dourada ou não, aliás, gaiola ou não, revelou-se uma agradável surpresa. O alardeado tom de comédia pareceu-me, felizmente, o menos relevante, pois ali se trata de assuntos bem sérios. Aliás, em minha opinião, seria perfeitamente dispensável a inclusão da personagem representada pela Maria Vieira, a que, pretensamente, mais justifica aquela qualificação, sabe-se lá se para atrair público - motivação, aliás, totalmente justa e compreensível. Acontece que o filme não é nenhuma revista do Parque Mayer...
 
Esses assuntos sérios são, nem mais nem menos, o drama (não a comédia) da emigração portuguesa, em que trabalhadores e trabalhadoras esforçados, competentes, diligentes, bem intencionados e cheios de boa vontade, trocaram a sua pátria lusa pela desconhecida França, sempre dispostos a dar o máximo de si, para conseguirem o que, por cá, sabiam nunca poder alcançar. Elas, como porteiras, eles, como trabalhadores das obras.
 
Esses assuntos sérios são, também, a forma como tais trabalhadoras e trabalhadores eram (são?) sugados, por uma estirpe de oportunistas, mal agradecidos e exploradores patrões.
 
Obviamente, não vou contar o filme, mas chamou-me, ainda, a atenção, o traço da incultura dessas pessoas, mais chocante, por não mostrarem aspirações a ascender a um nível superior de entendimento/conhecimento, sobretudo em contraste com os filhos, associando o desejo de superação e fusão (no meio ambiente), com a vergonha mal disfarçada (mas, custe o que custar, justificada) dos próprios pais.
 
Por último e como nota meramente pessoal, este filme fez-me lembrar as diversas vezes nas quais, em contactos profissionais ou em viagem, com franceses, boa parte deles sempre teve a amabilidade de me lembrar que tinha uma Maria porteira ou empregada doméstica! Claro que também houve uns, seguramente mais civilizados, que me falaram do Dr. Mário Soares e das três Marias. Enfim, talvez estes tivessem querido ser simpáticos ... e aqueles, também.
 
Em resumo e conclusão, um filme a ver!
 
 
 
 

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