quinta-feira, 13 de junho de 2013

I., O MERCADOR DE POMBOS (V)

(conclusão)
 
Já em queda livre para o mergulho, ocorreu a I. que não sabia nadar (yo).
 
Prendeu o salto mesmo no último passo, dando consigo, em equilíbrio instável, debruçado sobre a superfície aquática, que lhe devolveu a imagem.
 
E que imagem!, corpo alto e musculado, coroado por um interessante rosto moreno, de olhar penetrante, expressivos lábios carnudos, fortes e longas mãos, enfim, qual verdadeiro prodígio de photoshop. Só faltava a tonalidade verde nos olhos, mas, convenhamos, também não se pode ter tudo.
 
Apercebendo-se, instantaneamente, de que tinha cumprido o sonho da visibilidade, contou até dez, não fosse o diabo tecê-las.
 
Ouviu, então, um  estrondoso bravo, vindo sabe-se lá donde, mas, seguramente, da voz de S., que aditou:
 
- Eu sabia que não és parvo, por mais determinado que estivesses, nunca chegarias ao ponto de te afogar! Nem, doutro modo, te teria ajudado, pois, para que servirias ao meu case study, caso fosses um fracassado?
 
Então é isso, pensou V. (obviamente, V.), sempre é verdade que não existem almoços grátis.
 
Mas nada disse, pois já se atarefava de volta da mala LV, curioso acerca do seu conteúdo.
 
S., aborrecido por não ter obtido resposta ou agradecimento, ainda advertiu, com certo azedume:
 
- Olha, já agora veste-te, não sei se reparaste que estás nu.
 
Por esta altura, já V. se enfiava num elegante e cool fato Armani e nuns confortáveis e very british sapatos (o underwear era Calvin Kline ) e olhava à volta, procurando um jornal desportivo e uma mulher sexy (não necessariamente por esta ordem).
 
Como não visse nem um nem outra, resolveu ir tomar café, dirigindo-se a uma boutique Nespresso que estava quase a fechar. Mesmo assim, a sorridente empregada, disse-lhe:
 
- Entre, entre, Sr. V., mas é só por ser para si.
 
E ele, muito convencido, entrou, vendo a cena repetir-se com uma bela e sofisticada mulher que surgira depois dele e se lhe dirigiu:
 
- Aqui fazem-nos sentir verdadeiras estrelas, não acha?
 
Em vez de responder - mor or less, V. rasgou um sedutor sorriso, respondeu afirmativamente e convidou-a para jantar, ao mesmo tempo que oferecia a mala LV à menina da Nespresso, por ela ser tão simpática e o café ser molto buono.
 
Tinha muito tempo para decidir como usar o cartão de crédito ilimitado sabiamente colocado num bolso do fato.
 
Uma coisa era certa, não estava nos seus planos voltar ao mundinho dos visíveis/invisíveis, pois, no sucesso do seu percurso tinham-se esfumado as ruminações de vingança - o que, não sendo habitual, lhe convinha sobremaneira, agora que (também) era um visível.
 
cartão de crédito ilimitado

 
 
 
 

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