quarta-feira, 12 de junho de 2013

I., O MERCADOR DE POMBOS (IV)

(continuação)
 
Tudo se tendo passado tão inesperada e rapidamente, I. ficou bastante atordoado e com uma enorme necessidade de por as ideias em ordem.
 
Afinal, quem seria, verdadeiramente, S.? Como teria conseguido vê-lo, a ele, um invisível? Como desvendara o seu secreto plano? Tratar-se-ia dum agente dos visíveis? Mesmo não o sendo, porque se propôs ajudá-lo, para mais, sem nada pedir em troca?
 
Demasiadas perguntas para nenhuma resposta, essa é que era essa!
 
Todavia, uma certeza tinha I., acima de tudo queria tornar-se visível, pouco lhe importando, agora, conhecer a razão da sua invisibilidade.
 
Uma certeza e um problema, o de não saber, exactamente,  como atingir o seu objectivo, pois era bem conhecida a inexistência de manuais ou livros de auto ajuda sobre como vencer a invisibilidade, e os visíveis guardavam, ferozmente, o segredo da sua natureza, razão do seu poder.
 
Ora, não sendo parvo, I. sabia que, sendo necessário, não seria suficiente  afastar-se do antigo mundo, como estava a fazer, para alcançar a visibilidade.
 
Assim, com a mesma determinação com que se lançara à estrada, acrescida do golpe de intuição que as circunstâncias impunham, decidiu seguir a indicação de S..
 
Não tinha outra hipótese senão alcançar o lago e, para isso, restava-lhe seguir em frente, concluiu. Afinal, fora assim que se vira perante S..
 
Renovada a serenidade e o ânimo, olhou em redor, com o intuito de desvendar algum sinal de orientação.
 
Viu, de imediato, uma pomba - visão que, felizmente, já deixara de ter havia muito tempo - saltitando apressadamente, com ar meio perdido. Sem qualquer espécie de dúvida, decidiu-se a seguir na direcção oposta à da ave, com a firme certeza de estar no caminho certo.
 
uma pomba saltitando, com ar meio perdido
   
E assim continuou, adoptando pistas identificadas por acutilante intuição, mas nem sempre de leitura ou significado inequívocos,  até se deparar com uma enorme  massa de água, deslizando até ele com ameaçador bruaá.
 
Nunca vira nada assim e ainda pensou que fosse o lago (também nunca antes vira um lago), mas, mesmo a tempo de suster o mergulho, lembrou-se da recomendação de S., um lago especial, rodeado de vegetação. Ora, não se vislumbrava por ali qualquer espécie de vegetação.
 
uma enorme massa de água
 
O seu coração bateu forte, tal fora o susto e o receio de, num segundo de precipitação, ter deitado a perder todos os esforços já despendidos, e eram muitos, mas, a pouco e pouco, lá se acalmou, retomando a rota de sinais que, estava certo, acabaria por o conduzir ao lago.   
 
Após muitos dias de cansativa marcha e pistas equívocas, que, por vezes, o faziam retroceder ou ziguezaguear, I. preparava-se para uma pausa quando foi, novamente, surpreendido por súbita aparição, desta vez, duma Zebra falante, que, sem ele nada perguntar e sem se apresentar, lhe disse:
 
- Não descanses agora. Caminha em frente e verás o lago, chama-se o Lago dos Pilares e é o lago especial, rodeado de vegetação, de que S. te falou. 
 
E, assim como apareceu, desapareceu, deixando I. de boca aberta e com energia renovada para alcançar o lago, o que, com meia dúzia de largas passadas, conseguiu.
 
uma zebra falante
 
 
o Lago dos Pilares
 
 
 
Iria I. ter coragem para mergulhar no Lago dos Pilares?
 
 
 
 
 

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