domingo, 9 de junho de 2013

I., O MERCADOR DE POMBOS (III)

(continuação)
 
A princípio, I. caminhava, com cautela, pela sombra, preferencialmente ao abrigo da mais densa vegetação, enquanto altas e velhas árvores trocavam entre si murmúrios de espanto, visto ser a primeira vez que, nas suas longas vidas, presenciavam a aventura dum invisível (as árvores, graças aos seus poderes místicos, sempre conseguiram ver os invisíveis).
 
as sombras (caminho escolhido por I.)


ao abrigo de densa vegetação ...



 murmúrios de espanto




Mas, à medida que avançava, ia-se sentindo cada vez mais confiante e descontraído, apesar de não saber bem qual o seu ponto de destino nem o que, verdadeiramente, iria encontrar.
 
As sombras e a vegetação frondosa começavam a escassear quando, abruptamente, surgiram umas escadas que I. desceu, sendo conduzido, com profundo espanto, a um mundo animado por belas cores e magníficas cantorias, não escondendo, todavia, um som de passos surdos, esmigalhando a areia do caminho.
 
  ... surgiram umas escadas
 
 
 um mundo animado ...
 
Distraído como estava, na contemplação deste novo mundo, I. assustou-se devido à súbita aparição, mesmo à sua frente, dum mágico armado de raios e estrelas, com ar altivo e ameaçador, que, sem rodeios, o interpelou
 
- Sei ao que vens ...
 
- Pois eu não, interrompeu-o, I.
 
- Não sejas mal educado, não me interrompas!
 
-Des ..., balbuciou I., logo sendo admoestado pelo mágico.
 
- Não ouviste? NÃO ME INTERROMPAS!, trovejou.
 
- Nem fiques com esse ar aparvalhado e medroso. Chamo-me Súbito, S. para os escolhidos, e estou aqui para te ajudar; queres saber porquê? 
 
(I. acenou afirmativamente, sem ousar pronunciar palavra, não fosse S. desatar em nova berraria e, inclusive, arrepender-se de o ajudar).
 
- Sei tudo sobre a tua vida, aprecio a coragem que revelaste ao abandonares a tua triste vidinha, tanto mais que não vou à bola com os da tua antiga casta, sempre tão queixosos e conformados, e, como expressão desse apreço, vou indicar-te a maneira de te tornares visível, teu secreto desígnio, como também sei.
 
E fez uma pausa, durante a qual I. ganhou balanço para, sem o risco de estar a interromper S., se lamentar:
 
- Mas eu deixei tudo para trás, já não tenho o pombal e, assim sendo, nada tenho com que lhe pagar o favor.
 
- Estou quase a arrepender-me - grunhiu S.-, parece que, afinal, não mudaste nada! Não te achas digno duma ajuda desinteressada? Achas que não mereces? Pedi-te alguma coisa em troca? Responde!, ordenou, em tom perentório.  
 
- Não é isso, não é isso, a verdade é que nunca recebi nada grátis - a não ser maus tratos dos visíveis, pensou, mas, esperto, não disse -, confirmando, aliás, o velho ditado de que não há almoços grátis, articulou I., acrescentando, com voz grossa e cabeça levantada, - E não precisa de falar comigo nesse tom altaneiro, pois hei-de conseguir o meu desígnio, com a sua ajuda grátis ou sem ela. E, já agora, qual é, concretamente, essa ajuda?
 
- Resposta certa, disse S., por entre uma estridente gargalhada. Não queiras saber porquê, limita-te a seguir as instruções ...
 
- Quais?, interrompeu I, em tom provocador.
 
- Caminhas mais um pouco até encontrares um lago especial, rodeado de vegetação; mergulha nele, conta até 10 e sai. Então ficarás encantado com o resultado e precisarás do conteúdo desta mala. Toma, é tua.
 
I. estendeu as mãos para receber a bela mala Louis Vuitton que S. lhe estendia e preparava-se para solicitar indicações complementares, quando, assim como aparecera, este desapareceu sem deixar o mais pequeno rasto. 
 
 
Súbito, o mágico

 
 
 
 Conseguiria I. descobrir, por si só, o caminho para o lago da visibilidade?
 
 

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