segunda-feira, 30 de maio de 2011

BIRDS

Estranhei tanto, mas tanto, bulício e fiquei desorientada, pois não atinava a detectar-lhe a origem. Rodei a cabeça e vi, não sem espanto, como se equilibravam, garbosamente, sobre os cabos. Eram eles, os pássaros-de-fim-de-tarde, num bem encenado ajuntamento, discutindo as peripécias do dia ou antecipando o programa nocturno  ou sabe-se lá o quê.

Lembro-me, agora, do tempo em que, sentada nas escadas traseiras da casa, não sem cúmplice companhia, acompanhava os seus movimentos baléticos e as suas conversas estridentes, antes de recolherem sabe-se lá onde.

Nessa altura, ainda não tinha a mania de capturar momentos ... com a câmara ...




sábado, 28 de maio de 2011

ANDAM POR AÍ

A joaninha passeia, calmamente, pelo parapeito da minha janela


a pomba deleita-se num banho de azul


o não-sei-quê balança, ousadamente, na ponta dum galho, desafiando o abismo


as andorinhas debandam, freneticamente, porque é isso que costumam fazer


e o gato mira-me, fixa e altivamente, como só os gatos, deixando-me roída de inveja do verde dos seus olhos.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

MAIS UNS VOTINHOS, S.F.F.


Os palhaços continuam a actuar, prestando-se a tudo e mais alguma coisa por mais uma mão-cheia de votos.
Desta feita, aos microfones da RR (grande admiração), o Dr. Passos Coelho terá admitido alterar ou rever ou avaliar – já ouvi todas as versões, mas, no essencial, qualquer delas vai dar ao mesmo – a lei da interrupção voluntária da gravidez ou, em português politicamente incorrecto, a lei do aborto.
Da (restante) direita oficial ou oficiosa – Portas e Sócrates – à esquerda caviar ou durona – Louçã e Jerónimo – todos acorreram, vociferando os esperados argumentos.
Os argumentos dos filmes deles, que o nosso, do cidadão comum, é bem diferente, aliás, nem é um filme, são vidas reais, ameaçadas pela decadência a que este (ainda?) País foi conduzido pelos palhaços alternados, com a passividade e/ou conivência dos macacos amestrados.
Cá para mim, entendo que a questão em causa tem tanta oportunidade como, sei lá, como - parafraseando o outro - a discussão dos pentelhos.
Isto não envolve qualquer juízo (de sentido positivo ou negativo) sobre a dita lei.
Já envolve um juízo claramente negativo sobre este tipo de campanha eleitoral, em que tudo serve, menos o que importa, para fintar as sondagens, ou seja, para conseguir mais uns votinhos.
O essencial, o que seria relevante discutir, seriamente, para sairmos do buraco em que estamos mergulhados até à testa, isso é alegremente varrido para debaixo do tapete, até dia 5 de Junho.
O grande problema é que, depois desse dia, a realidade vai ganhar pernas, sair do esconderijo e invadir-nos com toda a violência.
Até lá, venham os bombos e os palhaços e aplaudam os macacos.

MACACA, EU?

Ele é o adiamento da publicação de nomeações para dirigentes de cargos intermédios da Administração Pública (certamente muito necessárias ao eficaz funcionamento dos serviços, tá-se mesmo a ver ...);

Ele é o anúncio das maravilhas da execução orçamental, a caminho da gloriosa redução do défice (certamente por mero acaso, lançado no dia do pai de todos os debates, embora, com protagonistas destes, mais valesse sermos órfãos ou perguntar ao paizinho do défice se, afinal, já não iriam ser necessárias as medidas troikianas, coisa que, como tantas outras, o jornalista/mediador de serviço não perguntou ...);

Ele são mais umas dívidas que não são relevadas nas contas públicas, embora com a garantia do sr. (talvez) engenheiro Sócrates de que não vem daí nenhum mal ao mundo, pois se trata de receitas do Estado (certamente na convicção de que não precisamos de saber a razão da retenção, por parte dos serviços devedores, convicção deveras acertada, até porque saber de mais é cansativo e obriga a puxar pela cabeça e, vai-se a ver, se calhar nem cabeça temos ...);

Ele é o PR que, num assomo de patriotismo, veta o diploma que, pasme-se e adivinhe-se porquê, cria um regime remuneratório especial (quer dizer, mais dinheirinho público a voar dos nossos bolsos) para os trabalhadores da CADA (certamente porque são fantásticos e, também, porque é preciso redistribuir aquilo que se tirou aos outros e vai tirar-se aos pensionistas e sabe-se lá que mais, que ainda a procissão vai no adro ...);

Enfim, ele é mas é a p. dum grande circo, em que a encenação/orquestração está a cargo duns grandessíssimos palhaços e nós, o povo, figuramos no espectáculo como macacos de última categoria.

E há-de ser bem feito que assim continue, caso os palhaços de serviço não levem uma grande corrida no próximo dia 5 de Junho!

Chato é que, como aquilo que se diz do justo e do pecador ou da água, da rocha e do mexilhão, os macacos que se puserem a jeito possam vir a amarrar (fazer pagar ou lixar-se) os outros macacos.

Então, pela minha parte, abaixo os palhaços e os macacos idiotas!

(Estou mesmo a ouvir um palhaço e um macaco idiota - dá no mesmo - a perguntar se isto das cores é por causa dos clubes de futebol ... Daha, claro que não, mas também não explico, adivinhe quem tiver dois dedos de testa! 



terça-feira, 24 de maio de 2011

SENTIDO DE HUMOR

Tenho-me apercebido de que, as mais das vezes, o meu sentido de humor não chega a atingir os meus  interlocutores, o que é grave, qualquer coisa como uma faca que não corta ou uma bicicleta que não sai do sítio. 
Dou comigo a interrogar-me se será demasiado hermético, cáustico ou se, pura e simplesmente, dele sou destituída. Afinal - racionalizo - não pode existir um Ricardo Araújo Pereira em cada um de nós!
Também admito tratar-se de mero problema de comunicação, o que também é grave, pois o humor é, naturalmente, uma forma de comunicar.
Apesar da tortura destas dúvidas - ou, talvez, por causa dela - tomei uma decisão: de cada vez que usar o meu (hipotético) sentido de humor, vou acompanhar com legendas, afixadas na testa. Se resultar, já só preciso de melhorar o código comunicacional.
Isto era a brincar, ok?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

OSTRACISMO

Ao chegar à Costa da Caparica, um pouco antes do cruzamento dos semáforos, reparei num enorme painel, anunciando um tal CANTINHO DA PAZ.
Distraidamente, pensei para comigo, olha, não sabia que já se fazia publicidade aos cemitérios!
Um olhar mais atento rapidamente me resgatou da distracção, elucidando-me sobre a verdadeira natureza da coisa; tratava-se, afinal, de uma casa de repouso ou lar da terceira idade ou lá como é que se deu em designar estes locais.
Mesmo assim, na minha cabeça, continuei a fazer uma leitura desviante, traduzindo cantinho da paz por vai morrer longe e não chateies.
E não consegui sair desta! Antes de mais, cantinho transporta uma conotação de ostracismo, de chega para lá, que, nem a pretensa doçura do diminutivo disfarça, antes revelando a típica falta de coragem de quem não consegue dizer, pura e simplesmente, canto. Já o da paz que se lhe segue encerra a ideia de quietude, no sentido de inacção.
Ocorreu-me, então, que o criativo inventor daquela designação merecia o prémio publicitário idiota do ano.
Na verdade, não estou a ver que alguém, lá por ser velho (ou, sobretudo por ser velho?), possa estar interessado em exilar-se, quieto, num qualquer canto. Isto, é claro, se estiver no seu juízo perfeito e, obviamente, se estiver vivo – na acepção introduzida por uma célebre VIP da nossa praça e que aqui cobra tão apropriado significado, segundo a qual, estar vivo é o contrário de estar morto.
Só depois, certamente num assomo de lucidez, pensei que, às tantas, o anúncio era dirigido, não, propriamente, aos velhos, mas às famílias dos velhos.
E, na minha cabeça, martelou, com mais força, a leitura vai morrer longe e não chateies, apesar de, como é óbvio, compreender que não foi esta a mensagem que o criativo pretendeu fazer passar …

quarta-feira, 18 de maio de 2011

SOU LORPA, OU QUÊ?

Tão queridos que eles são, a fazerem o favor de conceder um empréstimo, a pagar pelo POVO PORTUGUÊS, à módica taxa de quase 6%, sobretudo em favor dos pobres BANQUEIROS, coitadinhos! E que contentinhos estão estes AGIOTAS, eles que tanto empenho mostraram na AJUDA EXTERNA (também eu, se fosse para mim) e que tão satisfeitos ficaram com os termos do ACORDO (também eu, se recebesse e outros pagassem por mim), como se viu, entre outras, pelas declarações de SATISFAÇÃO do beato (acho que o gajo tem cara de beato ...) S. ULRICH! AGORA (MAIS) A SÉRIO: Os bancos não são instituições privadas (excepção feita àquele cujos PREJUÍZOS foram NACIONALIZADOS)? O seu fim não é ÚNICA E EXCLUSIVAMENTE O LUCRO, para mais, um LUCRO DESMEDIDO, visto se tratar, por natureza, de uma actividade de AGIOTAGEM? Esse lucro não reverte a favor dos ACCIONISTAS (BANQUEIROS)? Esse lucro não é tributado a taxas bem inferiores às de rendimentos de ACTIVIDADES MAIS NOBRES, COMO SÃO OS provenientes do TRABALHO e de EMPRESAS PRODUTIVAS (DE BENS E SERVIÇOS, QUE NÃO DE LUCROS USURÁRIOS)? Eu, PESSOAZINHA COMUM, não vou ser, mais uma vez, penalizada pelo ACENTUADO DECRÉSCIMO DO MEU RENDIMENTO (QUANDO NÃO CESSAÇÃO, EM CASO DE DESEMPREGO), em várias frentes, como se o (des)governo - agora, com a "protecção/desculpa" dos "troikos" - ATINGISSE, DE RAJADA, tudo o que há para atingir (corte de salários/pensões, aumento de impostos, redução/extinção do Estado social, etc., etc., etc.)? Digam-me, por favor, ESTOU ENGANADA? ... Bem me parecia (que não). MAS, então, será que SOU LORPA? Uma coisa é certa: SINTO-ME IMPOTENTE, INDIGNADA E REVOLTADA. E, se todos se sentissem como eu, O PRÓXIMO DIA 5 DE JUNHO IRIA MODIFICAR, DEFINITIVAMENTE, A FACE DESTE PAÍS. Mas - como sabemos, infelizmente, sem surpresa - não é nesse sentido que as sondagens apontam. NÃO SE ADMIREM, POIS, QUE, DENTRO EM BREVE, OS JERÓNIMOS, A TORRE DE BELÉM E POR AÍ FORA VENHAM A SER PENHORADOS ÀS ORDENS DUMA QUALQUER KAISER MERCKL. Já que PENHORADOS E "FUCKED UP" JÁ NÓS, PAGADORES DA CRISE, ESTAMOS, HÁ MUITO TEMPO, NA BOLSA E NA DIGNIDADE! E, PARA MUITOS, NA PRÓPRIA VIDA!

(Produzi e publiquei este texto, na minha página de FB, no passado dia 12. Hoje, a sua actualidade vê-se reforçada, mediante a divulgação da notícia de que o BANCO DE PORTUGAL -  instituição que tanto jeito tem dado aos sucessivos governos de direita e de falsa esquerda e aos prezados banqueiros -  autorizou os bancos a modificarem, UNILATERALMENTE, as condições de empréstimos em curso)

GUERRA DOS BALCÃS

No início dos anos 90 do século passado, nos retalhos da Europa Central, antes unificados sob o forte jugo de Tito e a designação de Jugoslávia, eclodiu, com estrondo, uma guerra fratricida, cujo eco soou forte através das nossas TVs, ilustrado com o relato de terríveis atrocidades e a exibição de imagens duma destruição tão vasta quão gratuita, como, aliás, é próprio de qualquer guerra que se preze. 
Em recente deslocação a alguns dos Países resultantes da partilha posteriormente efectuada (ao sabor de interesses políticos de terceiros ...), pude constatar que persistem marcas vívidas dessa guerra, como é o caso da renda desenhada em alguns edifícios pelo crivo das balas, muitas disparadas por atiradores solitários.  Registei as que seguem, em Mostar, Bósnia-Herzegovina. 














Já a ponte de Mostar, tristemente celebrizada devido aos bombardeamentos de que foi alvo, veio a ser reconstruída. 


Por seu turno, na Croácia (então, palco da invasão sérvia) apercebi-me de um sentimento de veneração pelos heróis de guerra, associado a uma forte revolta,  alusiva ao que consideram ser as injustas condenações aplicadas pelo Tribunal da Haia. 
Em Split, vi os primeiros cartazes alusivos ao tema:

Dias depois, em Zagreb, decorria um protesto, com greve de fome, em nome da mesma causa.


A propósito de tudo isto, vieram-me à memória dois livros de particular interesse:
-Guive Peace a Chance! Sarajevoo Diário de Zlata, de Zlata Filipovic, 1994, relato da guerra, na perspectiva do brutal impacto causado na vida da autora, uma adolescente; 
- A Ponte sobre o Drina, de Ivo Andric, que, reportando o início da sua narrativa (a da construção da dita ponte, numa cidade de fronteira entre a Bósnia e a Sérvia) ao início do séc. XVI, acaba por fornecer um importante referencial histórico para a compreensão das diversas influências culturais e religiosas que contribuíram para a formação do caldo onde viria a gerar-se a guerra dos Balcãs. 

terça-feira, 17 de maio de 2011

HIPOCRISIA

A sociedade civil deu em andar deveras amargurada com  a sucessão de notícias alusivas ao facto de vários idosos terem vindo a ser encontrados sem vida (para não dizer mortos), nas suas residências, semanas, meses e, pelo menos num caso, anos após a verificação das respectivas mortes.
Levantou-se o típico clamor de ai coitadinhos, ai coitadinhos, de como é triste terem morrido sózinhos, de ninguém se ter apercebido, e por aí fora, com mais ou menos choradinho.
Grande hipocrisia, é o que é!
Em primeiro lugar, esses casos só sucedem porque a dita sociedade não liga a ponta de um chavo a essas pessoas que, por uma razão ou por outra, vivem relegadas ao seu recolhimento, voluntário ou não. Mesmo quando o isolamento é mais notório ou, mesmo, público (caso dos sem-abrigo), as pessoas passam por ele como cão por vinha vindimada, cada um fechado na sua vidinha (sabe-se lá qual e quantos dissabores já comporta).
Assim sendo, qual a surpresa, porquê fingir tanta peninha dos que morreram ao abandono das suas solidões? Não era, porventura, esse, o desfecho esperável? Fez-se alguma coisa para o evitar?
A mim, a única coisa que me surpreende é que os corpos não sejam encontrados mais cedo, pois sempre acreditei que a difusão do cheiro a cadáver actuasse mais rapida e eficazmente.
Em segundo lugar, não vislumbro muito bem qual é o problema de uma pessoa morrer só; pelo menos, comparado com o de atravessar uma existência tão isolada que chega ao extremo de ninguém  se dar ao incómodo de manifestar um razoável interesse em saber se (ainda) é viva (já nem digo, se está bem). 
Por último, tenho para mim que a morte é uma experiência que se vive só, mesmo na hipótese de alguém estar por perto, porventura, segurando-nos a mão.

   

sábado, 14 de maio de 2011

A MORTE AQUI TÃO PERTO

Um dia da semana passada, praia da Rainha, Costa da Caparica.
Instalo-me logo a seguir às dunas, onde estão implantados aqueles guarda-sóis semelhantes a cabanas africanas. Com a maré tão baixa, o mar espraia-se longe, numa ondulação suave e pouco barulhenta. Nem uma nuvem, todo o protagonismo para o sol.
A maneira como as pessoas se estendem ao longo da praia, calma e espaçadamente, sem os atropelos e a algazarra próprios dos meses de verão, sugere-me uma pintura naíf .
Cubro-me de ecrans totais, tal é o estado de brancura do meu revestimento, deito-me e antecipo o deleite do puro fare niente, aquilo que, de há um bom tempo a esta parte, tendo a considerar o verdadeiro luxo, deixando em recuado plano os diamantes Chopard, os acessórios Louis Vuitton e outros reconhecidos objectos de desejo (imperdoavelmente, ía-me esquecendo de referir os manolos). 
Não tarda muito, ouço alguém comunicar, via telemóvel, um afogamento: ...é um senhor que se afogou, quer dizer, uns rapazes tiraram-no da água, inanimado ... Sim, estão a tentar reanimá-lo, é aqui, na praia da Rainha, está sinalizada ...
Quase ao mesmo tempo, uma loura corre pela areia, pedindo ajuda.
Levanto a cabeça e vejo, lá ao fundo, junto ao mar, um ajuntamento de pessoas.
A senhora que ocupa o guarda-sol perto do meu regressa da sua ida à água e comenta com os do lado, aquele já está despachado, quando foi retirado da água espumava pela boca, estão a tentar reanimá-lo, mas já não respira e está cianosado. Devia ter uns cinquenta e tal anos, já está despachado, repetiu.
Curiosamente, o ajuntamento não aumenta, mantendo-se a maior parte das pessoas, como eu, no seu lugar. Será que o povo português está a perder aquela atracção idiota pela desgraça, que, tão frequentemente, conduz à formação de intermináveis filas de trânsito, quando há um acidente, de preferência sangrento, a não perder, interrogo-me. Era bom, era ...
Ao fim do que me pareceram longos minutos, ouve-se o guinchar de uma ambulância, mas nada, não se vê nenhuma equipa do INEM a correr em direcção ao infeliz.
Até que, estranhamente, acho eu, se aproxima, paralelo à linha de água, um carro de recolha do lixo. Larga qualquer coisa grande, azul, que, na distância, não identifico (talvez o recipiente do lixo), apanha o sinistrado e sobe a praia, ziguezagueando, apressado, entre várias instalações de toalhas/pessoas/guarda-sóis, em direcção ao parque de estacionamento, onde, ao que tudo indica, a ambulância o aguarda .

A nuvem negra e nauseante que envolveu o acontecimento vai-se desvanecendo, à medida que o corpo se supõe cada vez mais longe.

Enfim, a morte resolveu dar um ar da sua graça, indo caçar ao domínio marítimo. Isso até se compreende! Mas era preciso a realidade ser tão explícita, tão figurativamente hiper-realista - passe a redundância -, actuando de forma a antecipar a condição última do corpo que deu suporte a uma vida?  

Pois é, (também) não há luxos grátis.

Mais tarde, dirijo-me à água - estava óptima - e ouço um rapaz dizer que, afinal, o sinistrado ainda respirava, quando foi resgatado pelo carro do lixo.

Ainda bem, mas, por esse dia, o brilho do luxo tinha-se desvanecido.

  

A ABRIR

Demorei e demorei, até chegar aqui! Aparentemente, a questão era ... o título. Até que, num acto de coragem, optei pelo óbvio. Afinal, ando por aí, olho e, por vezes, vejo; oiço e, por vezes, escuto; penso e, por vezes, registo. Também, por vezes, me apetece partilhar e, com sorte, lá ultrapasso a preguiça.
Outro título provável teria sido UNIVERSOS PARALELOS, pois acho que esta nossa existência, de que tendemos a falar, é disso expressão. Camadas, umas a par das outras, sem comunicação visível (ou previsível?), de um modo que impossibilita a compreensão do sentido essencial do conjunto, da origem e da razão de ser. Embora, numa vertigem de eventualidade, tudo pudesse ser tão simples como o simples virar duma folha, frente e verso, tão infinitamente distantes - como, entre si, as paralelas - e, afinal, tão próximas, indissociáveis.
Mas, ainda bem que me fiquei pelo óbvio, pois não é destas geometrias que tenciono falar.